sábado, 5 de novembro de 2011

As contas das SAD

O julgamento do presidente e administradores da União de Leiria SAD pelo crime de abuso de confiança fiscal na forma continuada que esta semana começou no Tribunal de Leiria, merece especial destaque por força do testemunho da Técnica Oficial de Contas Leiriense que revelou que a sociedade terá dificuldades em manter a sua actividade.
Embora a existência das Sociedades Anónimas Desportivas conte já com mais de uma década no nosso País, a verdade é que nos deparamos ainda hoje com múltiplas realidades, desde clubes que agora pretendem enveredar por este modelo, a situações de pré-insolvência como a antes referida, aos bem mais significativos desempenhos das SAD dos principais clubes.
Em relação a estas, o diagnóstico há muito que estava traçado: de uma forma geral, os pesados encargos suportados com o seu funcionamento, com o seu passivo bancário e com os custos associados aos enormes investimentos realizados (nos seus estádios, pavilhões e centros de estágio e treino) só conseguem ser compensados por uma de duas vias: ou através de desempenhos excepcionais na vertente desportiva, nomeadamente em sede de competições europeias e da Liga dos Campeões de forma particular, ou através de alienação dos seus activos (jogadores ou treinadores).
Ainda do lado dos custos / investimento há ainda que acrescer às parcelas antes enunciadas o próprio investimento na contratação de recursos que possam contribuir para o tal sucesso desportivo e o concomitante resultado financeiro.
A gestão de uma Sociedade Anónima Desportiva é assim feita nesse ténue equilíbrio entre os custos “fixos” estruturalmente assumidos, as opções de investimento adoptadas para cada momento e o resultado alcançado, que sempre depende de contingências múltiplas, bastas vezes fora do seu controlo.
Há aqui uma verdadeira dialéctica financeira entre o “risco” que se pretende assumir – traduzido nos investimentos em recursos de maior qualidade que poderão potenciar o desejado sucesso desportivo – e o “retorno” que dos mesmos poderão advir, assim se conjuguem favoravelmente os diversos factores que o podem viabilizar.
Pela positiva, dir-se-ia que o sucesso é auto-sustentável: os bons resultados desportivos, trazem proveitos financeiros, valorizam os recursos, potenciam transacções e atraem o apetite de recursos de maior qualidade.
Neste caso, a chave do êxito assenta na capacidade de garantir a substituição dos recursos alienados por outros de qualidade idêntica, através de formação interna ou de uma área de prospecção capaz.
Da mesma forma, um trajecto de insucesso transforma-se numa espécie de ciclo vicioso: a ausência de resultados condiciona o potencial de angariação de receitas, desvaloriza os recursos e desincentiva a realização de novos investimentos. A solução para reverter este trajecto não é facilmente identificável ou não é financeiramente exequível, mais a mais na actual conjuntura.
Se é fácil fazer associações entre estes estereótipos e a nossa realidade envolvente, é também importante que os responsáveis das diferentes SAD saibam estar atentos aos bons e aos maus exemplos, de forma a beber as melhores práticas e a evitar as opções insustentáveis.
No que nos diz mais directamente respeito, só podemos congratularmo-nos pelo progresso sustentado que a SAD do Braga vem registando, conjugando o crescimento desportivo com o desejável desempenho financeiro (que possibilita a obtenção de resultados positivos, a amortização do passivo acumulado, a sustentação de orçamentos mais ambiciosos e a libertação de meios para a concretização de projectos mais arrojados).

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