quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Obrigado, Mané!

Corria o final do mês de Julho de 2004 quando me desafiaram a assistir a um treino de um promissor jovem canoísta Bracarense junto à praia fluvial de Merelim.
Junto com vários outros jovens que então praticavam a modalidade, e, diga-se, com excelentes resultados, conheci o atleta de apenas 18 anos que conquistou um excelente 7º lugar nos Jogos Olímpicos de Atenas que se realizaram no mês de Agosto seguinte.
Mais do que os dotes desportivos, que o tempo viria a confirmar, impressionou-me o carácter e a determinação desse Bracarense e do seu treinador, José Sousa, que os levou a lutar contra todas as adversidades e recorrentes faltas de apoio para somar êxitos ao seu currículo.
Com a felicidade que outros não tiveram, acabaram por se mudar para o vizinho Náutico de Prado – cansados dos insistentes adiamentos das promessas municipais de criação de uma pista náutica e de realização de obras na sede do Clube – e, mais recentemente para o Sporting Clube de Portugal (clube em que, apesar das dificuldades económicas conhecidas ainda se continua a pugnar por um verdadeiro ecletismo desportivo).
Quando o apresentei como meu Mandatário para a Juventude nas Eleições Autárquicas de 2005, realcei precisamente esse aspecto do exemplo que o mesmo corporizava de luta contínua pelo sonho e do esforço que se exige a todos os jovens para conseguirem concretizar os seus objectivos em qualquer dos contextos das suas vidas.
O desempenho nos Jogos Olímpicos seguintes – Pequim 2008 – não foi tão brilhante e o mesmo acabaria eliminado nas meias-finais das duas provas que disputou, o que talvez tenha desincentivado a reedição da recepção na Praça do Município que merecera quatro anos antes.
Depois de vários outros brilharetes em provas internacionais, o jovem Bracarense chegou ontem aos céus do Olimpo e voltou a devolver a alegria a todos os Portugueses, com a conquista da primeira medalha para o nosso País nos Jogos Olímpicos de Londres, em parceria com o também minhoto Fernando Pimenta.
Emanuel Silva, claro está, terá atingido ontem um dos momentos mais altos da sua já longa mas igualmente promissora carreira.
Pessoalmente, vivi com enorme alegria, entusiasmo e até emoção a prova de ontem dos nossos canoístas, muito por força de ter bem presente a imagem desse primeiro encontro de 2004 com o Emanuel.
Nuns minúsculos arrumos, quase sem iluminação, ele e os demais atletas do Fluvial de Merelim, improvisavam equipamentos de treino com vários artefactos domésticos, a simular halteres e outros suportes desportivos.
Acho que, desde esse dia, nunca mais desdenhei da performance daqueles que nos representam e que, sem conseguirem ser os melhores dos melhores, conseguem juntar-se a um leque restrito dos mais competentes nas suas especialidades no mundo inteiro, tendo por trás realidades como a que conheci em Merelim.
E, por outro lado, reforcei a convicção de que nenhum Autarca pode sentir a consciência leve por esbanjar enormes volumes de recursos financeiros em equipamentos de reduzida utilidade ou de utilidade alguma como em casos que nos são próximos, e deixar escapar por entre os dedos as oportunidades que com apoios quase simbólicos outros Emanueis mereciam.
E este também. Parabéns, Mané!