quarta-feira, 28 de março de 2012

Somos os Primeiros!


“(…) Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim
E da ânsia de o conseguir! (…)
Viajar, Fernando Pessoa

O Sporting Clube de Braga conseguiu a melhor classificação da sua história na principal prova do futebol sénior na época desportiva 2009/2010, rompendo com a barreira psicológica dos 4ºs lugares antes alcançados, para finalizar o campeonato em segundo lugar, a 5 pontos do vencedor, o Sport Lisboa e Benfica.
O percurso nessa época foi, porém, substancialmente diferente daquele que a equipa realizou na época em curso, com a particularidade de o Braga ter iniciado a prova na liderança e ter mantido essa posição até à 19ª jornada, com excepção de uma descida transitória ao segundo lugar na 8ª jornada, após um empate fora com o Rio Ave.
Mesmo a primeira derrota então sofrida em Guimarães na 10ª jornada não pôs em causa um estatuto conquistado com uma série de vitórias que incluiu jogos em Alvalade e frente a Benfica e Porto, no Municipal.
Com Domingos Paciência, essa surpreendente afirmação de qualidade do Braga acabaria por soçobrar com uma copiosa derrota no Dragão (5-1) na 20ª jornada da prova (a 21/02/2010), altura em que a equipa desceu para o segundo lugar onde viria a acabar a competição. Cerca de um mês depois, uma polémica derrota no Estádio da Luz viria a arredar o Braga da luta pelo título, pese embora o equilíbrio pontual se tenha mantido até ao final.
No cômputo geral, o Braga dessa época registou 22 vitórias, 5 empates e apenas três derrotas, com um goal-average final de 48-20.
A título de curiosidade, refira-se que o melhor marcador da prova viria a ser Óscar Cardozo, com um total de 26 golos apontados – apenas mais um que o “estreante” Radamel Falcão.
Dois anos e 27 dias depois, o Braga voltou esta semana à liderança isolada da Primeira Liga, fazendo ecoar nas ruas da Bracara Augusta o lema que a RTP consagrou e que encima o presente texto.
Desta feita, porém, o trajecto de Braga foi substancialmente diferente, como que dando meio época de avanço aos seus adversários. Afinal, até à 11ª jornada, quando perdeu 3-2 no Dragão, o Braga já tinha acumulado quase tantos empates (4) e derrotas (2), como as que registou na época de 2009/2010. Nessa ocasião, encontrava-se a 8 pontos do líder Benfica.
De então para cá, a história é conhecida de todos: 13 vitórias consecutivas (para já) e uma subida a pulso dos degraus de topo da tabela classificativa até ao lugar actual. Neste impressionante registo, o Braga sofreu já tantos golos como em 2009/2010, mas tem também mais 5 golos apontados, muito graças a Lima que, com 19 golos, é igualmente líder da lista dos melhores marcadores.
Com três equipas separadas por dois pontos, mantém-se tudo em aberto em relação ao desenlace da competição, com o toque de pimenta adicional de o calendário reservar para as últimas seis jornadas encontros de elevada dificuldade (entre os candidatos e não só).
Como tantas vezes referi, o bom desempenho desportivo a este nível acaba por arrastar para a cidade o foco das notícias e o interesse de muitos potenciais visitantes, nacionais e internacionais.
No plano estritamente futebolístico, é bom registar a súbita simpatia do adepto isento, o receio dos adversários de maior poderio e recursos e o desdém amarelo dos comentadores alinhados.
Afinal, qualquer que seja o destino da viagem – que nunca terminará na noite do próximo Sábado – há que desfrutar dos prazeres do trajecto… E, para já, somo os primeiros!...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Futebol agridoce

A oito jornadas do final do principal campeonato nacional de futebol, três equipas seguem na liderança com apenas um ponto a separá-las e com o aliciante de ainda estarem por realizar vários jogos entre elas e entre estas e outros rivais de peso.
Alguns patamares abaixo, o Marítimo, que assinala uma regularidade extraordinária, e o Sporting, que parece voltar ao nível exibicional do Outono depois da longa quaresma Natalícia, prosseguem uma disputa interessante e terão uma palavra importante na luta dos primeiros.
À medida que se desce na tabela, encontramos vários outros clubes que não têm conseguido manter um desempenho consistente mas que, de forma alternada, vão surpreendendo com actuações de excelente nível, capaz de menorizar qualquer dos favoritos antes referidos.
Hoje, é assim impossível dizer se os jogos decisivos serão aqueles que opõem os candidatos ou se a sua força vai ser sobretudo testada na capacidade de cumprir nos desafios teoricamente menos aliciantes.
Pegando nas curiosas palavras de Bruno César após o último Paços de Ferreira-Benfica, o campeonato “está gostoso”, prometendo uma competitividade que, pese embora os incidentes recorrentes da esfera da arbitragem e não só, promete arrastar-se até à última jornada, proporcionando belos espectáculos e uma disputa capaz de reter adeptos, simpatizantes e curiosos até ao último suspiro da prova.
Bem mais abaixo, também a luta pela manutenção seguia interessante, com um leque alargado de clubes separado por um número reduzido de pontos. Com 24 pontos em jogo e com múltiplas partidas entre as equipas abrangidas, esperava-se igualmente um final de prova emocionante e de sofrimento para os vários clubes envolvidos em tal compita.
Do alto da tabela à sua base, o principal campeonato português estava assim a justificar o elevado posicionamento que conquistou no ranking dos diversos campeonatos de clubes nacionais da IFFHS, em que apenas perde para Espanha, Inglaterra e Brasil.
A este nível, há muito que sou defensor do alargamento do número de participantes nesta prova, retomando o formato já experimentado dos 18 clubes. São múltiplas as razões em que sustento tal opinião, desde a salvaguarda do interesse dos adeptos e dos clubes enquanto entidades empregadoras (que são confrontados com um volume excessivo de pausas competitivas – mesmo para os que participam em competições europeias e se mantêm até etapas mais avançadas das Taças nacionais -), quer pelo impulso que tal opção daria para a sustentabilidade financeira dos clubes menores, quer pela convicção de que tal opção não põe em causa o nível de qualidade / competitividade da prova.
Ora, defender tal alargamento em nada coincide com a opção tomada pela Assembleia-Geral da Liga desta semana, que deveria fazer corar de vergonha os seus proponentes e apoiantes. Deliberar, a oito jornadas do final de uma competição, uma medida como a salvaguarda automática da não despromoção de qualquer clube é, sem qualquer exagero, matar a verdade desportiva dessa prova, por muito que se possa afirmar a dignidade e responsabilidade dos clubes e profissionais envolvidos.
Uma tal decisão e as já anunciadas medidas chantagistas em torno da posição dos visados sobre uma reversão de tal medida por parte da FPF merece do principal órgão do futebol nacional uma única e possível reacção: a reprovação taxativa do modelo antes aprovado.
Uma opção que não deve pôr em causa tal alargamento, mas viabilizar a sua concretização através de uma Liguilha a promover nos moldes tradicionais.