quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Taça é nossa!


Há cerca de 15 dias, traduzia neste mesmo espaço as reservas com que a generalidade dos adeptos Bracarenses encaravam, por entre a sempre incontornável ambição, a partida da final da Taça da Liga, sobretudo depois do sentimento amargo deixado pela descolorida exibição da equipa no Dragão na Segunda-feira anterior.
Mas, bem o sabemos, os jogos não se repetem, por menor que seja o espaço de tempo que medeia entre os mesmos, e a situação inverteu-se por completo no jogo decisivo.
Agora, foi o Braga que surgiu personalizado e o Porto que apareceu relativamente amorfo, sendo ainda penalizado pela muito dúbia opção do seu treinador de colocar em campo Abdoulaye em detrimento do habitual titular Otamendi.
Antes do intervalo, já o defesa central da Equipa B dos portistas antecipara o seu regresso aos balneários e concedera a grande-penalidade de que acabaria por resultar o golo que ditou a vitória dos Bracarenses.
No final, os momentos de sofrimento dos vencedores só se ficaram a dever à excelente prestação do guardião adversário e à catadupa de lances desaproveitados pelos seus avançados, em múltiplos lances de contra-ataque em superioridade numérica.
Ao apito final do árbitro, seguiu-se a belíssima festa no relvado e nas ruas da nossa cidade, bem ilustrativas do entusiasmo com que esta conquista histórica foi encarada pelos adeptos locais.
Aqui, tendo a discordar da ideia de colocar em idêntico plano a conquista da Taça Intertoto, de que o S. C. Braga foi mesmo o último vencedor. Afinal, o formato da competição e o protagonismo que a mesma merecia – mesmo sendo de âmbito europeu – não se equipara ao valor de uma conquista como a que o clube agora juntou à de 1966.
Seja como for, o Presidente António Salvador fez questão de juntar mais uma prova inequívoca ao mérito com que a própria Autarquia e a cidade o reconheceu no final do ano transacto, conquistando finalmente a competição nacional que o seu currículo como dirigente mais que justificava.
Noutros patamares, são muitos aqueles que merecem também o nosso reconhecimento pelo triunfo que consolida o crescimento do clube ao nível do futebol profissional.
Dentro de campo, jogadores como Mossoró, Alan, Hugo Viana e Quim, cuja continuidade continua ainda incerta, puderam juntar uma nota distintiva no plano desportivo ao carinho que sempre mereceram dos adeptos locais.
Quanto ao treinador José Peseiro, extremamente acossado pela carreira titubeante da equipa nas demais competições, acabou por conquistar o seu primeiro grande título e por receber um prémio para o carácter que, como indivíduo, sempre demonstrou.
Finalmente, se muitas vezes discordei da forma de relacionamento imposta pela Autarquia com o clube, este não deixa de ser o troféu que faltava no currículo de Mesquita Machado.
E, como em tantas outras áreas acontece, deixou ao seu sucessor a ambição de conquista de algo bem maior: neste caso, o título de Campeão Nacional.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

E Sábado?


Terá sido com especial desencanto que os adeptos Bracarenses assistiram ao jogo da passada Segunda-feira do Estádio do Dragão para a Primeira Liga Profissional de Futebol.
Mais do que o resultado desfavorável para as nossas pretensões, terá causado natural apreensão a postura da equipa no decurso desta partida, numa atitude excessivamente defensiva pouco compatível com o estatuto de candidato mais forte ao 3º lugar e ao inerente acesso potencial à Liga dos Campeões.
Nesse encontro, o Braga assumiu uma lógica de jogo bastante passiva, de “combate” na esfera defensiva, mas de pouco arrojo na frente de ataque, entregando o domínio de jogo a uma equipa do Porto bastante mais mole do que o habitual.
E, mesmo considerando que os dois golos da vitória caseira surgiram perto do final do jogo e em dois lances quase fortuitos, a verdade é que a convicção de qualquer espectador era de que os mesmos pareciam quase inevitáveis tal a toada do jogo até ali.
E se essa postura dos visitantes teve a sua demonstração mais eloquente na despropositada prática de anti-jogo de Quim durante quase todo o tempo que antecedeu o golo da vantagem portista, a verdade é que até aí só se vira a eficácia letal de Alan, a qualidade de Santos e a macieza do meio-campo e ataques Bracarenses.
Uma vez concluída a partida, os anfitriões viram cumpridos os seus anseios de manterem a distância para o líder da prova e o Braga viu-se condenado a recuperar os 3 (4) pontos de diferença para o terceiro classificado na recta final da competição.
E, se no campeonato tudo parece continuar em aberto, as atenções de parte a parte centram-se no reencontro aprazado para o próximo Sábado no Municipal de Coimbra.
Esta é a sexta final de uma competição que o Benfica venceu nas últimas quatro edições e em que o Porto apenas chegou à final em 2009/2010. Quanto aos Bracarenses, releva a amarga presença nas meias-finais da edição anterior, então derrotados pelos vizinhos de Barcelos.
Para chegar até aqui, o Braga já teve que eliminar o Benfica, enquanto que o Porto registou um percurso em que a principal complicação envolveu questões de natureza administrativa.
Curiosamente, o Braga conta nas suas fileiras com o melhor marcador desta edição da competição, com 5 golos apontados, mas Rabiola atingiu tal marca com a camisola do Desportivo das Aves.
Se olharmos para este jogo com os antecedentes de Segunda-feira, temos que ficar pessimistas. Se recordarmos a forma como o Braga eliminou o Porto da Taça de Portugal e como mereceu outro resultado no jogo da Liga, devemos ficar optimistas.
E, por paradoxal que possa parecer face ao que escrevi antes, creio que este jogo sim pode justificar uma abordagem mais cautelosa do que o de Segunda-feira – no qual era o Porto que tinha tudo a perder.
E, por falar em curiosidades, já reparou que o Braga perdeu as duas últimas finais sempre contra o Porto (Taça de Portugal e Liga Europa)? À terceira é de vez? 

Honra ao mérito


Sempre nutri especial admiração por todos aqueles que desenvolvem a sua actividade a título voluntário, a expensas de recursos e tempo próprios, na gestão de todo o tipo de colectividades que prestam um serviço às comunidades, sejam elas Associações Culturais, Recreativas ou Juvenis, IPSS, Centros Paroquiais ou Clubes Desportivos, entre outras.
Nessa lógica absolutamente amadora é possível encontrar alguns dos melhores gestores do País, na pessoa de todos quantos são capazes de realizar verdadeiros milagres, de forma a transformar recursos normalmente escassos ou inexistentes, em soluções criativas que viabilizam realizações de um valor incomensurável para os meios em que se encontram inseridos.
Atente-se ao caso particular das colectividades amadoras e, em especial, daquelas que assumem um papel preponderante no apoio à formação desportiva dos jovens do País (e obviamente do Concelho).
Com que dificuldades não conseguem os seus dirigentes fazer face ao vasto rol de encargos com que têm que se deparar para assegurar o seu regular funcionamento? Água, Gás, Luz, Inscrições nas Associações/Federações, Segurança, Equipamentos, Limpeza de Equipamentos, Seguros, Apoio Médico, Transporte, Alimentação são apenas algumas das fontes de despesa que tocam à generalidade dos clubes, na proporção do número de equipas e jovens que movimentam.
Em contrapartida, as receitas costumam ter um âmbito diminuto: apoios pontuais das Juntas de Freguesia, patrocínios quase simbólicos ou pequenas ajudas recolhidas junto das famílias dos atletas.
À medida que se agrava a conjuntura económica a situação é ainda mais grave, na medida em que rareiam os apoios da vertente empresarial e que as próprias Autarquias Locais (nomeadamente as Juntas de Freguesia) se vêem forçadas a canalizar apoios para outros campos de intervenção prioritária, mormente na esfera social.
Perante estas circunstâncias, ou os clubes têm uma base sólida mínima de apoio financeiro – normalmente graças a apoios prestados pelas Câmaras Municipais (com exemplos como os que há muito existem em Autarquias como Vila Nova de Famalicão, Vila Verde ou Barcelos e a que Braga só recentemente aderiu depois de quase uma década de luta das Oposição e dos clubes) – ou a sua gestão segue o exemplo de qualquer outra entidade de cariz empresarial: reduz-se a actividade ou declara-se a “insolvência”.
Mais a mais, quando procuramos garantir o acesso de toda a população jovem aos benefícios da formação desportiva, potenciar talentos, assegurar uma oferta eclética de modalidades e uma dispersão geográfica cabal da mesma, os desafios são acrescidos.
Por todas estas razões, o caminho só pode ser um: não o de criar uma dependência estrita ou o de sustentar artificialmente projectos inviáveis, mas sim o de recompensar as iniciativas meritórias que, também no campo desportivo, demonstram igual rigor, arrojo, esforço e capacidade de mobilização de recursos e vontades.

O Braga visto de Braga


Comecemos pelo óbvio: o Braga é o “clube da terra” e, enquanto tal, deverá captar o apreço bairrista dos locais, já não com a condescendência com as agruras de outros tempos mas com a convicção de que estão de facto a torcer por um dos melhores em todas as competições em que participa, seja no futebol, seja em qualquer outra modalidade.
È por isso que ainda hoje agradeço a minha filiação infantil e a presença contínua nas bancadas do 1º de Maio e no Campo da Ponte ao meu avô, Moura Machado, como espero que um dia também as minhas filhas me venham agradecer o facto de terem sido inscritas no seu clube de sempre desde o dia em que nasceram.
E, na mesma linha, é com especial apreço que acompanho as iniciativas com cariz pioneiro que a Direcção do Clube vem desenvolvendo junto da comunidade educativa e todas as outras que têm promovido um estreitamento da relação entre o Clube, os Bracarenses e todos os habitantes dos concelhos minhotos, região de que o Braga se pode assumir como verdadeiro representante.
Assim se explica, quase com naturalidade, e em linha com o crescimento desportivo, financeiro e de prestígio dos últimos anos, o atingir da mítica marca dos 30.000 sócios a que o clube chegou na passada semana.
Dito isto, em Braga ou em qualquer outra parte do mundo, não é “pecado” não se ser adepto do clube local, tanto mais que as paixões clubísticas envolvem circunstâncias e condicionantes quase mais insondáveis do que as que determinam o próprio amor em abstracto.
Mas, e este é um grande mas, mesmo para aqueles Bracarenses que não desejem o sucesso desportivo do Braga, ou que o vejam como uma importante ameaça às vitórias dos seus clubes de eleição, o Braga não pode ser ignorado nas suas dimensões social, cultural e económica.
Em primeiro lugar, e sem prejuízo do trabalho (até porque com muito menos recursos) igualmente meritório que um sem número de colectividades realiza nesta esfera, a verdade é que, do ponto de vista estatístico, no conjunto das diferentes modalidades, o Braga acaba por absorver uma percentagem significativa dos jovens que aderem à prática desportiva e beneficiam da formação social e humana que a mesma proporciona.
Em segundo lugar, a envolvência em torno do Braga acaba por reforçar o nível de identidade da Comunidade, com os sucessos do clube a contribuírem para o reforço da nossa auto-estima colectiva e para a nossa afirmação fora das nossas fronteiras.
E, finalmente, o Braga gera hoje uma dinâmica económica considerável, não apenas no âmbito dos recursos que movimenta mas, sobretudo, na capacidade que tem de projectar a imagem do Concelho e da Região, de funcionar como atractivo turístico e como catalisador para que muitos sintam a curiosidade de nos visitar.
E é hoje, graças ao trabalho a que António Salvador deu outra dimensão, um clube de Braga, muito mais do que um clube municipal.