quinta-feira, 21 de junho de 2012

Um sonho em construção


Olhemos para Portugal e para a Selecção que vai sendo cada vez mais Nacional à medida que os resultados surgem de feição e que a equipa vai ultrapassando sucessivos adversários no Euro 2012.
Tal como referia no meu artigo anterior, pese embora contemos nas nossas fileiras com o melhor jogador europeu e com vários outros de nível mundial, poucos eram os portugueses que depositavam reais esperanças no nosso desempenho nesta competição.
Mas, nesse mesmo texto, não deixava de admitir que esse estatuto de colectivo não favorito podia até jogar a nosso favor, a exemplo do que sucedeu com outras equipas noutras competições durante esta época.
Depois de um arranque titubeante contra a Alemanha, em que é difícil dizer que o “massacre” final traduziria a feição do jogo caso a equipa tivesse entrado com outra atitude – nesta como em outras “ciências” só em laboratório é que se consegue isolar os efeitos de uma só variável -, as melhorias foram sensíveis contra a Dinamarca e a Holanda.
No primeiro caso, com alguma displicência inicial e alguma fortuna no final, o resultado acabou por configurar a diferença justa de valores das equipas em contenda.
No segundo caso, o golo holandês espicaçou-nos para uma exibição de gala, apenas comparável nos tempos mais recentes à da goleada à Espanha, que agora se deseja repetir no próximo dia 27 (assim a Ibéria esteja duplamente representada nessa meia-final).
Nesta fase de grupos, muito se escreveu e disse sobre o papel e o desempenho da nossa principal estrela, Cristiano Ronaldo, no quadro da actuação global da Selecção.
Sem entrar na dicotomia esquizofrénica entre o “bestial” e a “besta”, há dados que são factualmente incontestáveis: por mais que Ronaldo vá galgando degraus nas estatísticas dos melhores de sempre do futebol português – e só poderia ser assim para quem participa neste patamar competitivo de topo desde muito novo (este é já o seu 3º Europeu) -, Cristiano raramente se apresenta na Selecção Nacional ao nível que se exibe nos clubes que representa.
E, neste particular, custa-me subscrever a tese da pressão que tem “sobre os seus ombros” porque, como bem demonstra o passado recente, raramente CR7 “carregou a equipa às costas” ou foi o elemento que fez a diferença. Mesmo no jogo da Holanda, em que foi justamente considerado o melhor em campo, Ronaldo teve ao seu lado vários colegas com exibições soberbas, desde a linha defensiva, passando pelo meio-campo, até ao outro extremo do ataque.
Neste âmbito, o que se deve esperar do nosso melhor jogador é que seja capaz de compensar os dias maus dos seus colegas e que, nos seus dias bons, demonstre o porquê de estar em condições de disputar o título de melhor jogador mundial com alguém tão fora-de-série como Lionel Messi. Com humildade, espírito de equipa, entrega e concentração e a genialidade que se lhe reconhece.
E isto, pouco tem a ver com falhar um ou mais golos de baliza aberta em momentos determinantes dos jogos, como aconteceu com Ronaldo no jogo da Dinamarca. Aliás, ao longo dos anos, quantos dos melhores do mundo não falharam até penalties em finais?
Para o que resta desta prova, a sensação / esperança que fica é que Portugal tem sido capaz de fazer bons desempenhos mesmo sem “O” Ronaldo, razão pela qual se pode esperar tudo se ele (e a equipa) mantiver a bitola exibida frente à Holanda.
Tudo, mesmo!... Força, Portugal!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Um Euro atípico


No plano estritamente desportivo, acompanharei este Europeu de Futebol com o mesmo entusiasmo e apreço com que sempre segui as grandes competições internacionais, reiterando a convicção de que “o Mundial sem o Brasil e a Argentina” continuará a ser uma prova espectacular para todos os amantes da modalidade.
Desta feita não houve sequer surpresas de maior no apuramento e estarão presentes as melhores equipas do Continente, representando mesmo os diferentes quadrantes geográficos: os nórdicos (Suécia e Dinamarca), o centro da Europa (França, Alemanha e Holanda), os representantes da Europa do Leste (dos anfitriões -Ucrânia e Polónia- à Rússia, Rep. Checa ou Croácia), os Britânicos e seus vizinhos (Irlanda e Inglaterra), a franja do Mediterrâneo (Portugal, Espanha, Itália e Grécia).
A título individual, sabemos que as sempre arreliadoras lesões (muitas delas de última hora) acabam por privar as diferentes selecções e os espectadores do contributo de algumas das potenciais estrelas da competição (como é o caso de Villa ou Gerrard). Mas há também as opções questionáveis, os castigos e até problemas com a justiça, como aconteceu com o Italiano Criscito.     
Seja como for, sobra muita qualidade para proporcionar excelentes desafios, numa competição em que apesar da qualidade reconhecida a várias equipas (mas com vantagem para Espanha e Holanda – as finalistas do último Mundial) tudo pode em tese acontecer.
E, entrando no domínio afectivo da nossa Selecção, é isso que nos pode animar. Afinal, apesar de contarmos com o melhor jogador europeu e com alguns outros jogadores do topo mundial, a equipa tarda em afirmar-se como um colectivo forte e mais parece entregue ao azar do destino que a colocou no “Grupo da morte”, junto com a Dinamarca, Holanda e Alemanha.
Para cúmulo, depois dos resultados e exibições dos últimos particulares, a mesma parece ter perdido a confiança e é já alvo do desprezo dos seus principais rivais.
Ora, numa temporada em que a nível nacional e internacional se viu equipas favoritas a tombarem perante adversários pragmáticos e lutadores nas finais de diversas competições, restar-nos-á talvez aspirar a ser uma espécie de Grécia do Europeu do nosso desencanto.
A este propósito, Portugal parte até para esta competição sem a identificação maciça dos cidadãos nacionais, provavelmente mais entretidos com as agruras do dia-a-dia do que com o titubeante desempenho da equipa de todos nós.
Aliás, em contraponto à imagem da “Selecção porta-bandeira do orgulho ferido de uma Nação e elemento revitalizador do nosso ânimo colectivo” que se queria promover através de campanhas como a da GALP, parece estar a ter mais acolhimento a revolta contra a opulência exagerada dos nossos representantes (que terão o maior custo de alojamento de entre todos os participantes na prova).
Aqui, para Portugal e muitos outros países presentes não deixa de ser curioso que o esforço para permanecer no Euro seja muito menor no rectângulo de jogo do que em outros campos de batalha…
Amanhã, às 17:00 horas, a bola vai começar a rolar. E assim continuará, de forma quase ininterrupta, até à noite do próximo dia 1 de Julho.
Quanto aos nossos, como na música dos Del Amitri que serviu de hino à participação da Escócia no Mundial de 1998, resta-nos cantar: "Don’t come home too soon…