quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Liga dos milhões


(Xeque Mansour)

Há não muitos anos, antes de António Salvador guindar o Sporting Clube de Braga a um patamar tal que tornou indiferente para os seus sócios e adeptos a sua proveniência empresarial, cheguei a acompanhar algumas discussões no Fórum SuperBraga em que se questionava se seria possível eleger para Presidente do Clube alguém que não contasse com uma forte capacidade financeira ou com o beneplácito da Autarquia.
Olhando à nossa volta, porém, parece cada vez mais distante a possibilidade de um comum sócio de um clube profissional poder assumir a liderança da colectividade, por melhor que seja a capacidade de gestão ou o conhecimento desportivo que possua.
Em Portugal, são múltiplos os exemplos da dependência dos mecenas locais no desempenho de determinadas colectividades, estando o seu maior sucesso ou insucesso ligado à disponibilidade de investimento dos seus dirigentes. Foi assim que se assistiu a subidas meteóricas e a descidas verdadeiramente a pique de diversos clubes nacionais.
Pelo contrário, podemos associar de forma inegável a estabilidade atingida pelos nossos vizinhos Gil Vicente e Moreirense ao envolvimento pessoal dos seus Presidentes, António Fiúza e Vítor Magalhães, e das respectivas equipas directivas.
Lá por fora, há já vários anos que muitos dos principais clubes se transformaram nos "brinquedos" dos magnatas mundiais, sejam estes “vedetas pop” (como Elton John, hoje Presidente honorário do Watford), investidores (como Malcolm Glazer, no Manchester United), Xeques (como Mansour, no City, ou Al-Thani, no Málaga) ou os novos milionários da Europa do Leste (de que o maior exemplo é obviamente Roman Abramovich e o seu Chelsea).
Um pouco por toda a Europa, seja nos novos potentados da ex-União Soviética, seja nos mais emblemáticos clubes de Itália, França ou Inglaterra sucedem-se as participações de detentores das grandes fortunas mundiais.
Há cerca de uma semana, o “As” divulgava uma notícia que testemunha que este fenómeno tende mesmo a ser institucionalizado nos principais emblemas. Assim, tal como já acontece no Real Madrid, também o Barcelona se prepara para aprovar uma alteração estatutária que requer que os candidatos a Presidente tenham que apresentar uma “garantia de capital” não inferior a um milhão de Euros.
Na mesma linha, o Real Madrid aprovou já em Setembro último uma alteração aos seus estatutos que requer que, para ser candidato à presidência do clube, será necessário um aval de 15 por cento do orçamento do clube, o qual ronda os 500 milhões de euros.
De volta a Portugal, quando constatamos que o passivo dos principais clubes oscila entre os 30 milhões de Euros do Braga, os 210 e 220 milhões de Porto e Sporting, respectivamente, e os 426 milhões do Benfica, a ilação parece óbvia: qualquer Presidente pode manter-se na liderança do seu clube, por mais descredibilizado que esteja o seu projecto e por mais catastrófico que seja o desempenho económico e desportivo, desde que garanta os milhões necessários no fim de cada mês. Não é Eng. Godinho Lopes? 

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