quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Histórias de encantar

Um dos factores que está na base de circunstâncias extremamente interessantes no quadro do fenómeno desportivo é a forma como os atletas lidam com a incontornável questão do seu envelhecimento, da potencial perda de competitividade daí resultante e da concomitante necessidade de ponderarem o seu abandono.
Como é óbvio, nem todos os atletas são vedetas milionárias e a decisão de abdicar de uma fonte de rendimento necessária para o seu sustento, presente e futuro, –face até à ausência de outras alternativas no mercado laboral – não pode ser tomada de ânimo leve.
Ainda assim, esta questão parece ainda mais interessante quando olhamos para desportistas que ainda se encontram num elevado patamar das suas faculdades e em que a decisão de abandono se tem que associar a matérias de outra natureza, como seja a própria gestão da imagem e das carreiras subsequentes que pretendam prosseguir.
A título de exemplo, alguém consegue hoje imaginar o que farão Messi e Ronaldo quando ultrapassarem a barreira dos 30 anos?
Seja qual for a circunstância, é compreensível que a decisão nunca seja fácil e que questões de índole emotiva possam também ter um peso determinante nas opções dos visados. Tanto mais que a sofisticação das práticas de treino permitem hoje prolongar as carreiras dos atletas com um alto nível de rendimento até idades “desportivamente” avançadas.
Quem não se lembra do êxito tardio de Roger Milla, o famoso avançado dos Camarões, que participou pela primeira vez num Campeonato do Mundo (e foi uma das figuras principais) já perto dos 40 anos, voltando quatro anos mais tarde para se assumir como o mais velho jogador a participar (e a marcar) num jogo do Mundial de Futebol?
E quem nunca ficou com a sensação de que Martina Navratilova parecia mãe de muitas das suas adversárias nas quadras de ténis mundiais?
E que dizer da francesa Jeannie Longo, que pedalou ao mais alto nível quase até aos 50 anos? Ou dos míticos basquetebolistas Kareem Abdul-Jabbar e Michael Jordan que, entre vários outros, pisaram os campos da NBA para lá dos 40 anos de idade?
Perante esse turbilhão de emoções, é mesmo comum vermos muitos atletas “reformados” a voltarem a vestir os seus equipamentos, numa segunda vida activa que tanto comprova e reforça o seu gabarito e palmarés, quanto não é bem sucedida e ameaça o prestígio dos atletas em causa, como bem demonstram exemplos que atravessam as várias modalidades.
Mas, desse conjunto vasto de evidências, poucas reunirão os atributos que envolveram a marcante ocorrência do derby de Manchester do passado Domingo, quando Paul Scholes foi chamado a “dar uma ajuda” aos seus colegas do United, contra o arqui-rival e agora poderoso City na decisiva eliminatória da Taça, depois de vários meses após o abandono da modalidade e sem ter feito um único treino com os seus colegas de equipa.
Nesse jogo, Scholes pode não ter ostentado a forma de outros tempos, mas assumiu-se como um jogador decisivo e encantou todos os adeptos com a sua entrega e prazer de jogar que sempre marcaram a sua presença em campo.
E, como se tal não bastasse, cerca de 24 horas depois ainda tivemos direito a ver o regresso de sonho de Thierry Henry ao Arsenal, no intervalo de dois meses da sua “reforma americana”.
O que terá levado muitos dos adeptos Bracarenses a perguntar: e tu, Karoglan, quando voltas?

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