(Xeque Mansour)
Há não muitos anos, antes de António Salvador
guindar o Sporting Clube de Braga a um patamar tal que tornou indiferente para
os seus sócios e adeptos a sua proveniência empresarial, cheguei a acompanhar
algumas discussões no Fórum SuperBraga em que se questionava se seria possível
eleger para Presidente do Clube alguém que não contasse com uma forte
capacidade financeira ou com o beneplácito da Autarquia.
Olhando à nossa volta, porém, parece cada vez
mais distante a possibilidade de um comum sócio de um clube profissional poder
assumir a liderança da colectividade, por melhor que seja a capacidade de
gestão ou o conhecimento desportivo que possua.
Em Portugal, são múltiplos os exemplos da
dependência dos mecenas locais no desempenho de determinadas colectividades,
estando o seu maior sucesso ou insucesso ligado à disponibilidade de
investimento dos seus dirigentes. Foi assim que se assistiu a subidas
meteóricas e a descidas verdadeiramente a pique de diversos clubes nacionais.
Pelo contrário, podemos associar de forma
inegável a estabilidade atingida pelos nossos vizinhos Gil Vicente e Moreirense
ao envolvimento pessoal dos seus Presidentes, António Fiúza e Vítor Magalhães,
e das respectivas equipas directivas.
Lá por fora, há já vários anos que muitos dos
principais clubes se transformaram nos "brinquedos" dos magnatas
mundiais, sejam estes “vedetas pop” (como Elton John, hoje Presidente honorário
do Watford), investidores (como Malcolm Glazer, no Manchester United), Xeques
(como Mansour, no City, ou Al-Thani, no Málaga) ou os novos milionários da
Europa do Leste (de que o maior exemplo é obviamente Roman Abramovich e o seu
Chelsea).
Um pouco por toda a Europa, seja nos novos
potentados da ex-União Soviética, seja nos mais emblemáticos clubes de Itália,
França ou Inglaterra sucedem-se as participações de detentores das grandes
fortunas mundiais.
Há cerca de uma semana, o “As” divulgava uma
notícia que testemunha que este fenómeno tende mesmo a ser institucionalizado
nos principais emblemas. Assim, tal como já acontece no Real Madrid, também o
Barcelona se prepara para aprovar uma alteração estatutária que requer que os
candidatos a Presidente tenham que apresentar uma “garantia de capital” não
inferior a um milhão de Euros.
Na mesma linha, o Real Madrid aprovou já em Setembro
último uma alteração aos seus estatutos que requer que, para ser candidato à
presidência do clube, será necessário um aval de 15 por cento do orçamento do
clube, o qual ronda os 500 milhões de euros.
De volta a Portugal, quando constatamos que o
passivo dos principais clubes oscila entre os 30 milhões de Euros do Braga, os
210 e 220 milhões de Porto e Sporting, respectivamente, e os 426 milhões do
Benfica, a ilação parece óbvia: qualquer Presidente pode manter-se na liderança
do seu clube, por mais descredibilizado que esteja o seu projecto e por mais
catastrófico que seja o desempenho económico e desportivo, desde que garanta os
milhões necessários no fim de cada mês. Não é Eng. Godinho Lopes?
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