Até ao início da noite da passada Quarta-feira,
e na opinião de uma franja substancial dos adeptos e comentadores lusitanos, a
Selecção Espanhola estava claramente ao alcance da equipa nacional, nunca se
exibiu no Europeu ao nosso nível e apresentava um modelo de futebol aborrecido
e quase capaz de desvirtuar a filosofia da própria modalidade.
Neste particular, mesmo fora das nossas
fronteiras, apregoava-se já que o anunciado triunfo Português iria traduzir-se
na machada final nesse estilo de jogo, numa tarefa cometida aos amantes do
futebol em estado-puro a que o triunfo do Real Madrid na Liga Espanhola sobre o
Barcelona dera início há poucas semanas.
Todavia, a partir da manhã seguinte, vergados ao
infortúnio de uma derrota tão amarga quanto injusta, já se voltava a admitir a
superioridade de “Nuestros Hermanos” para continuar num crescendo esfusiante,
coroado com os comentários apoteóticos à vitória da Espanha na final de
Domingo.
Esqueçamos, porém, o nosso jogo e as
circunstâncias da fortuna que, para pesar nosso, impediram que a “melhor
selecção do mundo” assistisse à final do Europeu pela TVE.
Confesso que me causou uma enorme estranheza ler
os comentários superlativos à exibição da Espanha na partida decisiva e à forma
como se procurou demonstrar a justiça do seu triunfo na prova com base no
resultado dessa final.
Sejamos objectivos: a Espanha marca o primeiro
golo por entre alguns momentos de menor acerto da defesa italiana mas
sujeita-se depois a uma importante reacção italiana até ao final da primeira
parte, período em que Casillas faz um punhado significativo de defesas
decisivas.
O segundo golo espanhol, quase em cima do
intervalo, é um lance extraordinário, mas surge claramente contra a corrente do
jogo.
Depois de um esboço de reacção italiana no
início da segunda parte, o jogo fica sentenciado com a lesão de Thiago Motta,
pouco depois de a Itália ter esgotado as suas substituições, e com cerca de 60
minutos de jogo.
Podemos, assim, olhar para o que se passou até
aí ou focar-nos no que uma selecção composta por jogadores de grande qualidade
fez durante trinta minutos (ou podemos mesmo dizer 10) contra uma equipa física
e moralmente destroçada e em inferioridade numérica num jogo desta natureza.
A coroar tal exaltação, a designação de Iniesta
como melhor jogador do Europeu ajuda também a perceber quão tortuosos são os
caminhos do futebol…
Seja como for, é óbvio que não se pode exagerar
nas críticas aos agora tricampeões, tanto mais que o futebol do tiki-taka é bem mais atraente do que o catenaccio italiano, que a solidez fria
de vários triunfos germânicos e que “aquela
coisa” que guiou os gregos ao triunfo no “nosso” Europeu.
Mas a verdade é que em 6 partidas do Europeu, a
“Espanha maravilhosa” apenas surgiu contra a Rep. Irlanda, no jogo sem
adversário dos Quartos-de-final, no prolongamento do jogo contra Portugal – ao
colo de Pedrito – e na celebração final de Domingo passado.
Pelo meio, perdeu-se a Holanda sem sequer entrar
no Europeu, as atractivas Rússia e Croácia – que mereciam ter ido mais além -,
a poderosa Alemanha enebriada pelo melhor Balotelli e, claro está, a nossa
Lusitana paixão.
Parabéns, sim. Ma non troppo…
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